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      Sonhos 
        
       " 
        Dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos. 
        Ele fala connosco através dos sonhos " 
       
        Carl Jung. 1934 
        
      Os sonhos 
        são o reflexo das nossas emoções e da nossa personalidade. 
        Ao descodificá-los podemos nos conhecer melhor. 
      Erich 
        From (1900-1950), psicanalista e filosofo social alemão 
        naturalizado americano, constitui o terceiro pilar fundamental da utilização 
        terapêutica dos sonhos. Segundo ele o sentido fundamental do sonho 
        é a realidade e a intuição autentica que se manifesta 
        também em consequência de problemas e questões socioeconomicas. 
      Entre os 
        precursores e preconizadores da utilização da análise 
        e interpretação dos sonhos como ferramentas terapeurticas 
        está Alfred Maury (1817-1892), médico e 
        arqueólogo francês que estudou e publicou em 1850 mais de 
        três mil registros oníricos. Maury concluiu que os sonhos 
        eram o resultado de estímulos externos sobre a pessoa do sonhador. 
      Outro precursor 
        foi Alfred Schopenhauer (1788-1860), filósofo 
        alemão segundo o qual o sonho constituiria o elo da corrente que 
        liga a consciência do estado sonambúlico à consciência 
        do estado de vigília. 
      Segundo 
        Sigmund Freud (1858-1939), psiquiatra austríaco 
        criador da psicanálise, no seu Traumdeutung (Interpretação 
        dos Sonhos), publicado em 1900, traça os princípios da utilização 
        dos sonhos na psicanálise e no tratamento das neuroses. Para Freud, 
        o conteúdo dos sonhos é a via real para o acesso ao inconsciente. 
        Os sonhos seriam a tentativa de realização de um desejo 
        reprimido inconsciente. E ainda seria de natureza sexual ou conteria aspectos 
        proibidos pelo contexto moral. 
      Freud dizia 
        que o sonho era produzido por dois elementos centrais : a "condensação" 
        e o "deslocamento", que significam: recolher partes de diferentes 
        períodos do desenvolvimento de uma pessoa, e reproduzi-los através 
        de simbolismos que ocultassem seu verdadeiro significado, evitando que 
        a pessoa entrasse em contacto directo com o material proibido ou do qual 
        se sentia culpada.Aqueles 
        nos deixam frequentemente um sentimento de estranheza podem ter um sentido 
        oculto. 
      Segundo 
        Carl Jung (1875-1961), fundador 
        da psicologia psicanalítica,formulador da teoria dos complexos 
        neuróticos e autor da teoria do inconsciente coletivo, o sonho 
        representa simbolicamente a situação do inconsciente actual 
        da pessoa, fornecendo um auto-retato expontaneo e de grande importância 
        na terapia. 
      Alfred 
        Adler (1870-1937), contemporâneo de FREUD salientou o complexo 
        de inferioridade e superioridade, como elementos centrais da personalidade 
        humana. Segundo ele estes aspectos se expressam nos sonhos das pessoas. 
        O complexo de inferioridade se manifesta essencialmente através 
        de sonhos de queda, nudez, roubo, perseguição, estupro, 
        perda de membros do corpo, regressão a etapas anteriores, como, 
        por exemplo, sonhar que se está de volta ao ginásio, ou 
        outra etapa qualquer já vivenciada pela pessoa.  
         
        A compensação de toda essa inferioridade sentida, ou o desejo 
        de superioridade se reproduz em sonhos do tipo: voar, viagens a lugares 
        desconhecidos, experiências místicas de ausência do 
        próprio corpo, contratos com seres extraterrestres, mas, sobretudo 
        em sonhos onde a manipulação e o poder são os elementos 
        dominantes.  
      Adler diverge 
        de Freud ao dizer que os sonhos e as fantasias não são a 
        expressão de desejos reprimidos mas representam uma mensagem do 
        indivíduo, que experimenta com o próprio vivido numa situação 
        fictícia mas que é vivida como se fosse real. Segundo ele 
        a interpretação dos sonhos e das fantasias é a porta 
        de acesso às profundezas da mente e contribui para a compreensão 
        das distorções da percepção de si mesmo e 
        das metas inconscientes. 
      Quando dormimos, 
        dá-se início a um ciclo de quatro etapas que se renovam 
        várias vezes durante a noite. É durante o terceiro estádio, 
        chamado REM (Rapid Eye Movement - movimento rápido dos olhos) que 
        sonhamos. 
        Algumas 
        pessoas pensam que nunca sonham. É uma ideia completamente falsa. 
         
      O que acontece, 
        na realidade, é que não se recordam. O sonho tem funções 
        de compensação e de reorientação.Por exemplo: 
        tem um problema para resolver, toma uma decisão durante o sono 
        e, no dia seguinte, acorda com outro estado de espírito. Porque, 
        entretanto, um sonho interveio e sugeriu outra orientação. 
        O mesmo cenário desfila debaixo dos seus olhos desde há 
        quinze dias? Essa imagem recorrente aparece para a obrigar a encontrar 
        uma solução para um problema específico. E enquanto 
        não o resolver, ela poderá continuar a surgir durante o 
        sono. 
      Determinados 
        sonhos colocam em cena arquétipos (a lua simboliza o feminino, 
        e o sol o masculino...) Estas imagens arcaicas, descritas pelo psiquiatra 
        Carl Gustav Jung, são símbolos universais. Mas não 
        se esqueça que a interpretação das imagens está 
        também ligada à sua história pessoal e ao seu momento 
        de vida actual.  
       
        Interpretação de sonhos 
      O sonho 
        é visto tanto por Freud como por Lacan como um texto a ser decifrado 
        que necessita de um "interjogo" entre as possibilidades de significações 
        que sugerem as imagens do próprio sonho. Assim encontramos que 
        o que fez Freud na análise do Homem dos Lobos é uma simples 
        inversão dos termos:os lobos imóveis significando uma mobilidade 
        frenética que se traduziria na castração e na perda 
        do pénis do menino. 
         
      Para o psicoterapeuta, 
        interpretar um sonho no contexto analítico com o paciente obedece 
        ao propósito de encontrar um sentido sempre determinado pela subjectividade 
        do paciente e não pela objectividade de qualquer dicionário 
        onírico, nem por comparação entre processos simbólicos 
        do que dizem os mitos de diversas culturas, e nem mesmo pela intuição 
        e pela experiência do próprio analista. 
         
      Jung tentou 
        redescobrir, no sentido dos sonhos, aqueles símbolos constantes 
        e reconhecíveis da história da humanidade que dizem respeito 
        a certos arquétipos da espécie humana, deixando assim de 
        centrar o sujeito para alargar o sentido ao ser humano total. 
         
      Paul 
        Ricoeur (1913-),um dos mais importantes filósofos da segunda 
        metade do século XX que estabeleceu uma ligação entre 
        a fenomenologia e a análise contemporânea da linguagem através 
        da teoria da metáfora, do mito e do modelo científico diz 
        que a região dos símbolos é por antonomásia 
        o sonho, o local abitado pelo duplo sentido.  
      Assim o 
        sonho é como um enigma e designa todas as regiões da expressão 
        do duplo sentido e o problema da interpretação marcaria 
        em todo o momento a compreensão do sentido; o intérprete 
        está destinado a organizar a expressões equivocadas: a interpretação 
        é inteligência do duplo sentido. 
        Na vasta esfera da linguagem o lugar da psicanálise seria no lugar 
        da inteligência dos símbolos e do duplo sentido, e é 
        aí onde o homem enfrenta diferentes maneiras de interpretar ou 
        seja o " campo hermenêutico", donde hermenêutica: 
        a arte de interpretar um texto. Ricoeur enfatiza o trabalho da "compreensão". 
      A 
interpretação de um sonho tem em psicoterapia um uso limitado e 
sempre em benefício do paciente. Ou seja se trata de introduzir frente 
ao sentido do sonho, um sentido provisório porém significativo do 
sonho em termos de "insight". 
        Enquanto Freud prefere interpretar um sonho como um chiste ou um acto 
        falhado, Jacques Lacan(1901-1981), filósofo e 
        psiquiatra, fala em desejo como a essência do homem e poderíamos 
        dizer que segundo Freud a essência do homem seria a linguagem.  
        Mesmo que Freud não tenha lido Saussure (1857-1913), linguista 
        suíço, ambos coincidem num ponto fundamental: na ênfase 
        do homem como um ser construído por palavras e a linguagem seria 
        a própria tela que constitui a matéria humana, incluindo 
        os sonhos. 
      Os 
sonhos podem resolver problemas e nos tranquilizar mas ao mesmo tempo podem nos 
assustar e acordar.  Os sonhos podem ser assustadores com imagens típicas 
de fenómenos naturais como enchentes, marés altas, terremotos ou 
sensações de estar caindo ou espatifando-se. Esses sonhos estão 
tentando resolver problemas que não queremos admitir ou trazendo-os à 
atenção consciente para que possamos lidar objectivamente com eles. Um 
sonho pode perturbar desnecessariamente a pessoa quando a mente consciente não 
entende a sua linguagem, pois a linguagem do inconsciente é diferente daquela 
da mente consciente e é por vezes assustadora. Ela exagera para ser ouvida, 
para chamar a atenção. Por exemplo matar alguém num sonho 
pode ser interpretado como sentir raiva de alguém ou desejar inconscientemente 
livrar-se de alguma parte do si mesmo. Os 
sonhos normalmente expressam-se em imagens, mas estas devem ser interpretadas 
metaforicamente e não conscientemente. Um ladrão entrando em sua 
casa ou um estranho a perseguindo pode significar que algum novo elemento de sua 
psique esteja tentando chegar até você para ser reconhecido. 
        Embora um sonho no qual você está tendo uma relação 
        sexual possa indicar realmente ter sexo com essa pessoa, também 
        pode ser metaforicamente interpretado como o desejo de aproximar-se de 
        unir-se, abraçando ou recebendo uma qualidade especial de você 
        mesma, que a pessoa do sonho representa. Sonhar com dar a luz pode expressar 
        o desejo real de ter um bebé, mas ao mesmo tempo pode ser uma metáfora, 
        significando um novo desenvolvimento em sua própria psique. Estar 
        nu diante de alguém num sonho provavelmente não quer dizer 
        que você seja secretamente uma exibicionista ou sedutora; provavelmente 
        significa que você está sendoaberta e vulnerável, 
        sendo você mesma sem máscara, protecção ou 
        condicionalismos culturais. 
      Sonhar com 
        a morte pode ser assustador e mal entendido. Se você sonha que alguém 
        morre, normalmente o sonho se refere a uma morte simbólica, como 
        a perda ou algo que falta em sua relação. Mas como os sonhos 
        quase sempre referem-se à você mesma, pode significar que 
        você perdeu ou sente falta dessa qualidade que a pessoa representa 
        em você mesma. Assim, um sonho em que você chora a morte de 
        um exuberante artista amigo de infância, poderá lhe indicar 
        a perda de seu próprio espírito artístico exuberante. 
        Por outro lado, se você sonha com a sua própria morte física, 
        ela é sem dúvida alguma simbólica, referindo-se a 
        umatransformação, uma grande mudança que está 
        a ocorrer em sua vida actual. 
      Existem 
        sonhos recorrentes que todos têm: sonhos de fuga, voos, quedas em 
        buracos ou abismos. Cada sonhador deve recolher os elementos que, ainda 
        que pareçam insignificantes ou incongruentes com o resto do sonho, 
        nos fazem individuar o nó de onde nasce o sonho e o caminho da 
        auto-descoberta e das futuras mudanças da própria interioridade. 
        Podemos dar sugestões sobre os sonhos, sugestões que se 
        apresentam como grandes vias interpretativas que todos podem alcançar, 
        mas cada um deverá trabalhar sobre o próprio material onírico 
        para encontrar os seus significados. 
      Dicas 
        para compreender melhor os sonhos 
      1 
        Anote os fragmentos dos seus sonhos quando sair da cama. Tenha sempre 
        na mesa de cabeceira uma folha de papel e uma caneta. Personagens, paisagens, 
        formas dos objectos, cores, etc. Escreva de um modo sistemático 
        tudo o que lhe ocorrer, mesmo que lhe pareça desprovido de sentido. 
         
       
        2 Nunca se esqueça de que algumas imagens são 
        mais acessíveis do que outras. Se o conteúdo de um sonho 
        lhe parecer demasiado hermético, passe para o sonho seguinte. 
       
        3 Deixe-se guiar pela sua intuição, mas 
        evite as interpretações demasiado rígidas. 
       
        4 Consulte um dicionário de símbolos, dar-lhe-à 
        chaves para melhor interpretar os seus sonhos. 
       
        5 Esforce-se por descrever o ambiente. Sentiu uma sensação 
        de alegria, de medo? Relacione essas emoções com a sua vida 
        quotidiana, as suas preocupações, as suas expectativas, 
        a fim de descobrir a ligação entre a vida diurna e nocturna. 
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