Timidez

 

"A rosa não tem porquê. Floresce porque floresce. Não cuida de si mesma. Nem pergunta se alguém a vê...".  
Angelus Silesius


A timidez é um desconforto emocional devido a um sentimento de inibição que interfere em situações de interação social e na realização de objetivos pessoais e profissionais.
Caracteriza-se pela preocupação obsessiva com atitudes, reações e pensamentos dos outros. Surge em diferentes graus, sendo que as pessoas extrovertidas apresentam esse traço mais atenuado e as pessoas tímidas mais acentuado.

A timidez manifesta-se predominantemente em situações de confronto com a autoridade, na interação com pessoas, bem como no contato com estranhos e principalmente ao falar em público.
É um traço da personalidade, mas devido a sua valorização social, poderá proporcionar sérios prejuízos à qualidade de vida da pessoa tímida, levando-a um grau de sofrimento, infelicidade e inadequação.
O tímido sente uma espécie de retração, como uma ameaça, um desconforto e uma tensão em situações que são agradáveis para a maioria das pessoas. Sente sintomas físicos como o coração a disparar, pernas trémulas, mãos suadas, rosto ruboriza, o estômago contraído, podendo sentir dificuldade em manter contato visual prolongado com as pessoas.

Todas as pessoas sentem timidez em algum momento da vida, uma vez que esta funciona como uma espécie de "regulador social", para evitar excessos prejudiciais em sociedade.

A timidez pode ser sentida como um dom ou um suplício. Ao reagir com sensibilidade e com uma atitude amistosa, o sucesso está garantido, mas se a “vergonha” é excessiva, é necessário melhorar.
A timidez é uma sensação muito comum nas pessoas e poucas conseguem ultrapassar o desconforto, a não ser as mais extrovertidas. Muitas mulheres usam a própria agressividade para esconder a sua timidez.

 

Causas da timidez

As causas da timidez podem ser explicadas por duas teorias: a biológica e a aprendida.

Segundo a hipótese biológica as pessoas tímidas são psicologicamente e geneticamente diferentes, o que sugere que as suas áreas cerebrais que ativam as reações de medo são ativadas mais facilmente.

Segundo a teoria da aprendizagem as primeiras experiências podem influenciar significativamente como as pessoas reagem frente às outras pessoas. Por exemplo, se uma criança é muito criticada pelos pais cada vez que corre pela casa, ela fará todo o possível para se proteger do julgamento das pessoas refugiando-se em si mesma.

Excetuando-se possíveis fatores genéticos, pode-se dizer que a timidez resulta de um processo.
O pesquisador americano do Instituto de Pesquisas Relacionadas à Timidez da Universidade de Indiana (EUA), Bernardo J. Carducci concluiu que 20% dos bebês têm tendência inata à timidez e, na fase adulta, 42% são tímidos.

 

Algumas Causas

Pai ou um dos pais é uma pessoa timida.
Pais ou um dos pais é muito agressivo.
Experiências de humilhações silenciosas ou públicas.
Familiares críticos.
Problemas familiares que causem vergonha.
Famílias afetivamente frias.

Esse tipo de experiências podem desenvolver percepções do "eu" como sendo frágil e sujeito a crítica dos outros.


O isolamento de uma pessoa tímida certamente não é uma fase passageira, mas uma componente inseparável da sua personalidade, uma parte integrada da sua estrutura psíquica e emocional. Portanto é um absurdo falar-se em “cura” pois se assim fosse a pessoa perderia muito aspetos positivos da sua personalidade. O melhor é aceitar ou mudar aqueles aspetos que resultem mais problemáticos.


Muitas pessoas tímidas sentem a timidez não como um dom precioso mas como um defeito para suportar. Familiares, educadores, amigos, psicólogos e os media frequentemente, em boa fé, descrevem a mente dessas pessoas com etiquetas que podem ferir. O primeiro passo para nos livrarmos de tais estereótipos destruidores da autoestima é conscientizarmo-nos do problema.

 

Segundo as estatísticas:

62% sentem sentimentos de timidez diariamente
82% reportam a timidez como indesejável
46% acreditam  na possibilidade de superar a timidez
7.2% não acreditam na possibilidade de superar a timidez
85% esforçam-se para superar a timidez

As fontes de desconforto

Os estímulos externos que inibem os tímidos
 

% de pessoas

 

Encontros com estranhos    
Conversar com o sexo oposto   
Abordar pessoas famosas   
Lidar com as autoridades 
Encontrar familiares   
Abordar pessoas mais velhas   
Encontrar os amigos   
Lidar com crianças   
Conversar com os pais   

 

70
64
55
40
21
12
11
10
8

Situações 

%

Ser o centro das atenções    
Contato com um grupo grande   
Contato com status mais baixo  
Encontros e eventos sociais   
Situações novas  
Necessidade de ser afirmativo   
Ser avaliado por outras pessoas   
Pedir ajuda   

73
68
56
55
55
54
53
48


Fonte: Philip Zimbardo em "Shyness: What It Is, What To Do About It"

 

7 Dons dos tímidos

1 Sensibilidade: são altruístas


2 Lealdade: são fiéis


3 Audibilidade: são coloquiais


4 Reflexividade: são companheiros(as)


5 Modéstia: são amantes


6 Misterioso: são sedutores(as)


7 Doçura: são respeitadores(as)

 

Diferenças entre timidez e fobia social

Fobia social: medo extremo de comer, beber, falar ou escrever na frente das pessoas. Ao contrário dos tímidos, o fóbico social, durante a exposição em grupo, não tende a se tranquiliza-se com o decorrer do tempo. Pelo contrário, sua ansiedade aumenta e o desempenho piora.


Timidez: não é doença. Os tímidos sentem necessidade de ser notados e aceitos, mas não possuem habilidades de comunicação para ter um bom desempenho.


Introversão: as pessoas introvertidas preferem ficar sozinhas, sentem-se energizadas por isso e não tem ansiedade ou autocrítica quando estão na presença de outras pessoas. Pelo contrário, elas possuem habilidades conversacionais e auto-estima necessárias para um bom desempenho durante a interação.

Fonte: Bernardo J. Carducci, Professor e Director do Instituto de Pesquisas Relacionadas à Timidez da universidade de Indiana (USA) Shyness: The New Solution, in Psychology Today, Janeiro de 2000).

A pessoa com timidez crónica:
● É menos competitiva e ganha até menos 10% do salário
● Costuma casar com a primeira namorada e pouco faz para aprimorar os relacionamentos afectivos
● Segundo uma pesquisa na Inglaterra 60% dos tímidos crónicos e 40% das tímidas chegam aos 30 anos virgens
● É solitária: está sujeita a depressão, ansiedade e uso de drogas e álcool

A pessoa um pouco tímida:
● O tímido pensa duas vezes antes de falar
● Guarda energia para um segundo tempo
● Está mais preocupado com a sua imagem e o resultado e se prepara melhor.
● O tímido é prudente e envolve-se menos em acidentes

Em termos profissionais, a inibição pode prejudicar o desempenho. O sintoma mais precoce e frequente, embora seja o mais fácil de ser controlado por meio de treino, é o medo de falar em público. Enfrentar uma plateia é o grande desafio para os tímidos, dos brandos aos crónicos.
Em entrevistas profissionais, o tímido costuma olhar para o chão, apresenta-se curvado e com voz trémula, enquanto é importante falar com voz firme e a manter uma postura corporal correcta.

 

Tratamento

Para vencer a timidez é preciso tentar contrariar a natureza, expor-se mais e, principalmente, não pensar de estar a ser observado e criticado.

Para as fobias mais graves pode ser necessário uma medicação de anti-depressivos. A psicoterapia é a opção para quem quer tratar a mente e o problema pela raiz, controlar bloqueios e adquirir um autoconhecimento mais real e positivo de si.

Nos casos mais brandos bastam algumas regras básicas de auto-ajuda, como respirar fundo, relaxar e aprender técnicas que ajudem a limpar a mente de crenças erróneas e pensamentos negativos. A timidez situacional, aquela que se refere a uma situação específica, como falar em público, quase sempre se resolve com treino especializado.

As crianças não precisam de tratamento pois a tendência é melhorar com o desenvolvimento. Deve-se procurar ajuda profissional somente quando o rendimento escolar cai a níveis incompatíveis ou no momento em que o desempenho profissional é prejudicado ou se o convívio social se torna um fardo insuportável.

Com adolescentes, por estarem num período de maior instabilidade emocional, é preciso maior cuidado, para evitar que a timidez se torne crónica ou degenere para fobia social.

O apoio aos pais é muito importante. Esse traço de personalidade pode ser reforçado ou atenuado pelas experiências vividas no processo de desenvolvimento sócio familiar e educacional durante a infância. Para que a pessoa tímida possa ter coragem, sentir auto confiança e uma boa autoestima, necessita de elogios e incentivos, para gostar de si e alcançar a liberdade e a independência moral para fazer valer a sua personalidade e opinião.

O tratamento para a timidez é a psicoterapia que promove uma mudança na maneira como a pessoa enfrenta cada situação e desenvolve novas habilidades sociais.

A psicoterapia tem como objetivo ampliar as condições do indivíduo, dando-lhe recursos para enfrentar situações adversas e, assim, diminuir a necessidade de aceitação plena e total de todos.

 

Dicas

Seja parte ativa da sua vida
Controle suas emoções e sentimentos
Esforce-se para atingir seus objectivos
Supere as dificuldades com a prática
Aproveite cada sucesso
Acredite nas suas próprias possibilidades
Decida que vale experimentar

 

Passos para ter sucesso social

Esquematize a sua vida social
Pense positivo
Engaje-se em reconhecimento social
Entre numa conversação delicadamente
Aprenda a manejar os falhanços
Sinta as suas emoções
Desarme-se diante de desentendimentos
Ria-se mais frequentemente

 

Conclusão

Sentir a timidez como uma virtude que faz parte da própria personalidade é o caminho para adquirir segurança interior para ser si próprio e aceitar naturalmente as emoções que surgem espontaneamente na vida.

Mariagrazia Marini Luwisch
Psicóloga Clínica - Psicoterapeuta

 


 


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